"Baixar músicas é legal"
Por Afonso Ellero
Uma das discussões recorrentes no mundo da música diz respeito à facilidade com que se baixa músicas na internet.
Os músicos se dividem em contra e a favor numa proporção quase equalizada. As gravadoras, maiores prejudicadas pela nova mania, batem na tecla de que baixar músicas na internet é ilegal, já que muita gente ganha dinheiro sem pagar impostos, além de colocar no olho da rua muitos funcionários que viviam da produção e venda “legal” de CD´s e DVD´s.
Claro, as gravadoras têm muito a perder e os músicos de “primeiro escalão” idem, já que sob as abas da indústria fonográfica recebiam antecipadamente por discos que ainda nem tinham sido vendidos e permaneciam na mídia pelo tempo que fosse preciso.
Nessa onda toda muita gente competente ficou para trás por falta de beleza física ou apelo comercial e muita gente sem talento virou ídolo porque sabia exatamente o que cantar, como cantar e para quem cantar. Tudo à custa de muito jabá (não o de comer).
Mas isso é outra história...
Outro dia passei numa loja de CD´s e dei uma olhada nas prateleiras. Pouca coisa se vê além dos nomes já consagrados e o preço... Bem, varia, mas não foge da média de R$ 27,00.
Aí é que está o “X” da questão!
Como um assalariado, pai de família, que ama música pode manter esse luxo?
Quando mais jovem, solteiro e ainda morando com meus pais comprava de três a quatro LP´s por mês. E posso dizer que era um privilegiado!
Hoje, para manter essa mesma média, eu precisaria dispor de mais de R$ 100,00 todo o mês. Dinheiro esse que no meu caso e de muitos por aí fariam uma baita diferença no orçamento da casa.
Graças a criação do Napster, a maior revolução musical depois da criação do rock, hoje posso ter acesso a todo tipo de cultura, principalmente a música.
Baixar um CD leva poucos minutos e não me custa nada! Só gasto pagando a mensalidade do Speedy, porém no último mês devo ter baixado pelo menos uns 50 álbuns! Em valores monetários isso significaria algo em torno de R$ 1500,00!
Graças aos programas de “compartilhamento de arquivos” tive acesso a músicas que sempre sonhei e não pude comprar, a músicas que sequer sabia que existiam, a estilos que jamais teria a chance de conhecer. Graças a tudo isso, mudei meu ponto de vista com relação ao Jazz, por exemplo.
Esse evento democratizou a cultura! Agora todos podemos ouvir o que bem quisermos sem ter que pagar exorbitâncias por isso.
Claro que comprar um LP tinha lá o seu charme, seu ritual, mas ainda prefiro a modernidade que me dá acesso irrestrito à cultura que o romantismo agradável de curtir um bom vinil que nem sempre era bom. Hoje se não gosto do álbum que baixei simplesmente “deleto” antes mesmo de gravar em CD. E se gravar antes de ouvir, guardo ou jogo fora se não me agradar, afinal serão apenas R$ 0,80 de prejuízo.
Existe uma nova ordem mundial no mundo da música e os músicos vão ter que se adaptar a essa nova realidade! Quem for bom vai fazer sucesso e quem for pura enganação está com os dias contados. Em menos de uma década o computador estará em todas as casas e até o ambulante que vende pirataria vai perder a sua fonte de renda.
Os músicos viverão apenas com o soldo de seus shows e as grandes produções, bancadas invariavelmente pelas produtoras, sairão de cena já que partindo dos músicos isso se torna inviável. Os telões voltarão a dar espaço para os velhos panos de fundo e o músico voltará a ser o motivo principal do espetáculo!
Há algum tempo atrás li em algum lugar que os músicos ganhavam cerca de R$ 1,00 por álbum vendido no Brasil e parte do cachê pelos shows ficavam com a gravadora que bancava a publicidade, a logística e a produção. Ou seja, a tendência é que a publicidade se faça pela qualidade do trabalho, a logística seja bancada pelo manager e a produção pelo músico. Simples, não?
Enquanto isso não acontece vou aqui baixando meus “arquivos compartilhados e não comercializáveis” sem sentir culpa pela diminuição dos impostos arrecadados ou empregos perdidos.
Meu caro amigo Afonso, seu texto é perfeito!A indústria fonográfica e seus "artistas" ficam apenas chorando as pitangas, processando pessoas de bem que baixam "seu sonzinho" na net e se esquecem que o maior vilão da queda na venda de cd's é o alto preço. Gostaria de ver um cd original (com encarte, letras, etc.) vendido a R$ 10,00... Iria arrebentar a boca do burro de tanto vender, aí ganharia-se na quantidade. Mas isto pouco importa! Eu mesmo, baixaria muito menos, ou baixaria pra conhecer o som e depois compraria a bolachinha... Particularmente adoro ver minha estante do quarto abarrotada de cd's, pena que a grande maioria seja da gravadora Bian Records... rsrsrsrs
ResponderExcluirLong Live P2P!!!!!
E pra finalizar, grande frase hein: "Esse evento democratizou a cultura!". Resumiu tudo!
Valeu...