"É um lindo dia
O céu desaba, você sente como se fosse
Um lindo dia
Não o deixe escapar"
O céu desaba, você sente como se fosse
Um lindo dia
Não o deixe escapar"
Por Beto Bian
Esta não é uma resenha crítica. Não citarei o set-list todo, entre outras coisas. Tentarei mostrar o show do U2 no Morumbi em 10/04/2011 sob a ótica simples de mais um entre 90 mil pessoas (ou quase isso). E também gostaria de deixar claro que não tenho nenhum cd da banda. Isto mesmo, nenhum. O máximo que tenho é um disco de vinil, o “War”. Mas isto não quer dizer que não conheça praticamente todo o trabalho destes irlandeses que são, quer queiram ou não, a maior banda pop da atualidade. De longe ainda.
Como todo bom amante de rock’n’roll sempre tive vontade de ver o U2 ao vivo. Só por suas músicas já valeria a pena, porém, toda a parafernália que os acompanha há um bom tempo só aumentou minha curiosidade. Considero foram eles (“a banda”) que popularizou o que poderíamos chamar de rock messiânico. Só aí já vale estar em qualquer bom livro de rock. Além disso, pense um pouco: qual banda atualmente ainda tem o poder de “parar” o mundo ao lançar uma nova bolachinha? E finalmente, e apenas pra confirmar o que acabei de falar é que a atual turnê é a mais lucrativa da história da música, ultrapassando os Rolling Stones...
Bom, vamos ao show...
Cheguei aos arredores do Morumbi por volta das 15:30hs, os portões já estavam abertos, porém, uma coisa me chamava a atenção: cadê as intermináveis e já tradicionais filas? De onde parei até chegar ao portão de entrada das arquibancadas azuis acredito que passei por, pelo menos, meia dúzia de entradas e apenas a fila para a pista era grande, porém, andava a passos largos, quase que corriam...
Outra coisa: onde estavam os ambulantes gritando, vendendo camisetas, cerveja, bonés, churrasquinho e otras cositas más? Nada. Para se tomar uma cerveja precisava realizar uma operação como se fosse comprar um carregamento de drogas... Pensei: tá tudo muito correto... Até demais...
Entramos. Subindo a rampa do portão 6 e é chegada a “hora da revista”. Uma fila de PM’s verificando pessoas e mochilas. Chega minha vez, abro minha mochila e a “toridade” me fala: “Com licença, senhor”, olha a mochila, agradece e me informa que posso subir...
Antes de adentrar à “arena”, entrego o ingresso a uma pessoa dentre as várias que estavam conferindo-os. Todos estão bem humorados: “Chegou o dia hein, gente?” fala um deles. Um moça fala: “Imagina se seu ingresso é falso?” e sorri. Eu respondo: “Nem brinque”... “Fica tranqüilo, hoje é dia de U2, nada dá errado”, ela retruca...
Estas palavras ficariam na minha memória até o final da noite.
Ah, os shows...
Devidamente batizados pelas “águas de abril” que São Pedro mandou sobre a cidade (mas já sem chuva), entra o (power trio, sim senhor) Muse. Se pudesse resumir a apresentação deles em poucas palavras seria como aquele ditado: “Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez.” A autoridade com que estes caras tomaram conta do palco foi algo sobrenatural. Sinceramente, eles foram os grandes vencedores da noite. Vencedores e felizardos, pois voltarão pra casa com centenas de milhares de novos fãs, afinal, se a grande maioria dos presentes não os conhecia, após os intensos 40 e poucos minutos do apocalipse sonoro apresentados (com um repertório escolhido a dedo), logo, logo, voltarão pra um turnê só deles por terras verde-amarelas. Exemplo: comigo tinham mais 14 pessoas e apenas uma, além de mim, conhecia o trio. Após o show todos falavam em comprar / baixar discos deles e perguntavam sobre a banda.
Depois de mais um batismo (torrencial!!!) de quase uma hora (acredito mas não tenho certeza), várias cervejas Heineken vendidas por R$ 6,00 por atendentes extremamente simpáticos e com troco (se custassem R$ 5,00 seria uma mão na roda pois fiquei cheio de moedas, rs), umas idas ao banheiro sensacionalmente limpo, organizado, com papel e sabão para as mãos além de duas (isto mesmo, duas) pessoas limpando o chão constantemente, começa a rolar “Minha Menina” dos Mutantes... Opa, acho que tá na hora... Logo após entra um som do David Bowie entrelaçado com “Even Better Than the Real Thing”... O Morumbi quase vai abaixo... Senhores e senhoras (de todas as idades, diga-se de passagem), sejam bem vindos a um dos maiores espetáculos da terra...
De bandas com anos de janela como os irlandeses não se pode esperar menos do que a perfeição, né? E foi exatamente isto que eles nos deram. Um passeio por quase toda sua discografia (tocaram “Out of Control”, do álbum de estréia!), selinho em uma das fãs que estava na tal “Red Zone” e que leu umas partes de “Carinhoso”, além dos já tradicionais momentos de discurso político-revolucionários de Bono (bem contidos, frise-se). Aliás, ele estava com extremo bom humor, em um momento do show disse que acabara de ligar ao “prefeito Kassab” que teria decretado o dia do U2 e todos estavam liberados de trabalhar no dia seguinte...
O tempo, mesmo imperceptível, vai passando, a pirotecnia do palco-aranha vai acontecendo (li em algum lugar que a idéia inicial ocorreu quando eles viram três garfos juntos formando uma espécie de torre, o que tem fundamento), os clássicos vão se amontoando pelos cantos do Morumbi em meio ao êxtase da platéia... Platéia, aliás, que entra pra história da banda como a primeira a presenciá-los tocar a música “Zooropa” na íntegra (sim, o U2 nunca tocou este som inteiro ao vivo), eles sempre a usavam apenas como música incidental ou em versão reduzida, dizem que é pela dificuldade em apresentá-la ao vivo. Eu nunca esperava também ouvir “Ultraviolet (Light my Way)”, um de meus sons preferidos e que pouco entra nos sets. “Walk On” e “One” também causaram comoção, ainda mais em mim por motivos pessoais... Só pra terem uma idéia, o segundo som tocou até em meu casamento (rs)...
É claro que teve momentos que serão facilmente esquecidos por mim, “I’ll Go Crazy If I Don’t Go Crazy Tonight” por exemplo ganhou ares de música de boate e foi salva pela já citada pirotecnia ensandecida que rolava no palco, a quantidade de luzes poderia ser confundida com um OVNI invadindo o Morumbi... Além disso, alguns sons poderiam ter sido incluídos para matar a saudade dos fãs... Mas isto é “peixe pequeno”...
O show vai chegando ao seu final, começa “Moment of Surrender”, já conhecida como a música que fecha a noite. O estádio está quase que totalmente escuro, permeado por luzes estroboscópicas, transformando o público em estrelas que vagueiam pelo céu... A letra diz: “No momento da rendição, Eu fiquei de joelhos, Não prestei atenção nos transeuntes, E eles não prestaram atenção em mim”... Naquele segundo, hipnotizados pelo ambiente, ninguém realmente prestava atenção nos outros, parecia que nada fazia sentido fora dali, aquele era o mundo real, o mundo ideal...
Final, vou saindo ainda em transe e olhando ao um redor todos da mesma forma...Felizes, sabedores que presenciaram um grande show, quiçá o maior de suas vidas...
O único problema desta noite quase perfeita foi agüentar o trânsito caótico para sair dos arredores do Morumbi e da cidade de São Paulo. Mas nada que fizesse qualquer um perder o bom humor, afinal, como havia ouvido há algumas horas atrás, aquele era o “dia U2, e nada dá errado”...
Sábias e exatas palavras... Será que demorarei mais 5 anos pra ouvir isto de novo?
PUT A KEEP ARE YOU!!!
ResponderExcluirQue bela descrição hein Betão!
Sabia que você o faria com maestria, por isso pedi...rs
Vendo as fotos pela internet fiquei matutando: acho que quero assistir esses caras...
Igual a você também não tenho nada deles em casa. Nada!
Gosto, respeito, mas nunca tive tesão em comprar ou baixar nada deles.
Agora Betão, me responda uma coisa com toda a sinceridade:
- "Em que país foi esse show mesmo?"
Com tanta ordem e organização teria sido mesmo no Brasil???
E se foi, no estádio de que clube rolou esse show? Deve ter sido num de um clube bem estruturado, moderno, vencedor, ou estou enganado?
Betão!
ResponderExcluirSensacional a sua resenha!!!
Espero em breve escrever uma, do show do U2 que estive em 1998 (Popmart, que foi exatamente o INVERSO deste...
Abraços
Mateus
Afonso, realmente me senti em outro país, o negócio tava muito organizado mesmo, inclusive conheço um pessoal que foi no sábado e parece que estava da mesma forma. Não sei se era o dia (tipo tava todo mundo "numa boa"), se era a organização mesmo, se era o Morumbi, se era um "cartão de visitas" devido à Copa do Mundo, sei lá... Prefiro acreditar que a mentalidade dos produtores de shows no Brasil esteja começando a mudar. Pensando bem, era obrigatório que tudo fosse ótimo depois da sacanagem na venda de ingressos né? E recomendo ir no próximo show deles, é sensacional, impressionante e memorável...
ResponderExcluirE Mateus, mande sua resenha de 98, na verdade nem me lembro quando foi, só lembro da turnê do "Vertigo" que eu não fui pois não consegui comprar ingresso (é a saga né?)... Aliás, cadé vc, cara?
Amigos, essas resenhas sobre shows têm sido um caso à parte em nosso blog. Sensacional. Muito bem descrito. Só quem vai a um desses sabe o que é.
ResponderExcluirCássio
Grande BETA!! Com sensibilidade e maestria descreveu sua participação num dos maiores espetáculos que esse planeta já viu!!
ResponderExcluirMinha insistente 'cabeça dura' mais uma vez alijou-me de uma oportunidade ímpar (já havia acontecido com Paul MacCartney).
Porém, através de suas linhas senti-me presente e, como apreciador (há controversas)do U2, experimentei uma ponta, bem grande, de injeva que vcs todos que se aventuraram!! Parabéns!! Continue com essa sobriedade e objetividade em suas crônicas!!
Gde abraço,
Emílio