“UMA DUPLA DO BARULHO”
Por Afonso Ellero
Julho de 2011. Passeando pela net entro num site de ingressos, chamo minha esposa para dar uma olhada nos preços e lá estava: Show duplo com Judas Priest e Whitesnake!
Dou aquele sorriso amarelo como quem diz: “Posso benhê?”
Dali a alguns dias seria meu aniversário e meu presente, segundo ela seria um novo celular. Deu me o direito de escolha: o ingresso ou o telefone.
Que pergunta mais besta né...
Sábado, 10 de setembro, Padaria do Alemão, 14h e 30min: Eu, Tony Kleeberg e mais uns nove malucos saímos em direção a “capitar” pra ver mais um show de rock´n roll. E que show!
O tempo ajudou. Não choveu e nem fez muito frio. Até pingou no meio da noite e fez um friozinho na madrugada. Mas afinal de contas estamos falando da Terra da Garoa e não poderia ser diferente.
Chegamos cedo e deu pra pegar um lugar razoavelmente bom se levarmos em consideração que estávamos na pista comum. Achado o lugar era só esperar. Esperar três longas horas até que a batucada começasse.
20h e 05 min. Luzes apagadas. Nos PA´s rola um som do The Who: “My Generation”. Era a música de entrada que anunciava que a Cobra ia Fumar!
“Best Years” abriu o show com bastante energia seguida de “Give me All Your Love” levantando os maloqueiros.
Um breve “Boa noitche Sao Paolu Brasil!!!” anunciou o primeiro super hit da noite: “Love Ain´t No Stranger”. Aí ninguém parou de pular! Era como se Coverdale imitasse a Ivete pedindo: “Tira o pé do chão!!!” (essa comparação foi podre...)
Seguiu se mais três músicas até que o Coverdale desse seu primeiro repouso. Hora do solo de guitarras!
A nova dupla de guitarristas da banda fez o que se esperava deles: um longo solo de distorções barulhentas sem muita técnica e muita pose pra dar tempo do David fazer um gargarejo com vinagre e mel. Tá... Eu não sou músico pra ficar falando da técnica alheia, mas já ouvi o suficiente pra saber que paletar as cordas que ficam entre o Capotraste e as Tarrachas, ou seja, na mão da guitarra, não é propriamente solar o instrumento. Dedilhar o mais rápido possível sem se preocupar muito com a melodia idem. Mais tarde até rolou um mini solo de Slide precedendo uma canção, mas aí já não conta. Os caras são bons. Só isso!
Mais uma canção e outra pausa para o solo de bateria! Hora de o David dar uma mijada. Longa mijada, aliás...
Brian Tych já tocou com muita gente boa e manda muito bem nas baquetas, mas...
Mas o cara parece que gosta de imitar o Tommy Lee do Motley Crue.
Ele literalmente não toca bateria, ele maltrata o instrumento! O cara senta o braço! Sem dó!
O solo foi até legal. Teve o momento “Olha como eu sou foda” em que ele jogou as baquetas fora e tocou só com as mãos como um percussionista. Mas seu grande truque era bater com a baqueta na pele o mais forte o possível de forma que ela saísse voando e girando. Na caída ele a pegava e continuava tocando. Só que no solo o que ele fez foi o famoso: barulho.
Legal! Tá bom... Mas não dava pra mostrar uma “técnicazinha” pra gente ficar admirado?
Era um tal de dois bumbos e baquetas rápidas com porradas na “prataria” que chegava a cansar... Talvez ele estivesse testando a resistência das peles, sei lá...
Terminada a mijada do Coverdale o “Couro comeu na Casa de Noca!” – já dizia o dito popular.
“Here I Go Again” e “Still Of The Night” pra encerrar a parte Whitesnake e mais três covers do Deep Purple: “Soldiers Of Fortune” e “Burn / Stormbringer” pra relembrar o passado glorioso.
Nem precisa falar que “Burn” simplesmente acordou a cidade toda... Berrávamos no refrão, como era de se esperar.
Finda a apresentação ficou a sensação de “Toca mais uma!”, apesar dos 70 minutos de show.
Opa! Esqueci de falar do baixista e do tecladista!
Bem... Eles estavam no palco, mas confesso que nem deu pra notar...
Agora me permito algumas linhas pra falar do vocalista: esse tal de David Coverdale.
Esse senhor de 60 anos canta pra caralho!!! E ainda simula uma punheta com o pedestal do microfone como nos velhos tempos!
Tá certo que com o tempo a vós de qualquer um vai cansando, e a dele não fez diferente!
Mas o que faz um músico experiente quando percebe que o gogó ta falhando? Usa o grave pra encobrir os buracos deixados pelo tempo!
O “feladaputa” deixou a vós mais grave e às vezes até um pouco gutural! Rouco e visceral! Quando a música exigia um agudo aqui e outro ali ele pedia a famosa ajudazinha da mesa ou deixava a galera cantar. Simples assim...
Porém... Ah esse porém...
Sr. Coverdale... Vossa senhoria já tem 60 primaveras. Já tem idade de avô. Tenha dó de si mesmo! Posar de gostosão com a camisa desabotoada tipo caminhoneiro meigo a essa altura do campeonato dá até Vergonha Alheia!
Sim senhoras e senhores! O homem resolveu fazer de conta que tinha 25 aninhos e se comportou de tal forma que faria o Paulo Ricardo (RPM) parecer um Macho Alpha!
Não bastasse mandar beijinhos para algumas mocinhas da platéia ele dedicava “a love song to Sao Paolu!” E não contente com isso mexia nos cabelos tal qual numa propaganda de shampoo da Grazi Massafera!
Mas o pior foi o dedinho... Virou foto/chacota da internet! O cidadão além de fazer caras e bocas resolver morder a ponta do dedo indicador, tal qual uma putinha de zona! Hahahahaha
Você não precisa disso caro David... Tu canta muito, é rico e famoso. Mesmo com essa sua cara que mistura o olhar e os cabelos do Serguei, o nariz do Dee Snider e as bochechas da Dercy Gonçalves a mulherada faria fila na porta de seu quarto!
E foi assim que o Whitesnake foi embora deixando saudades...
22 horas e 10 minutos. A cortina com o nome do último álbum, “Epitaph” se ascende e as luzes da pista se apagam...
Um clima soturno se faz com a pouca luz e a introdução musical. E como diria Fiori Gigliotte: “Abrem se as cortinas e começa o espetáculo!” Neste caso a cortina caiu...
“Rapid Fire” abre os trabalhos e mostra o bom e velho Judas de sempre: muito couro e tachinhas; um palco com cenário e iluminação de primeira.
O som dos PA´s encobria um pouco os agudos, mas nada que atrapalhasse demais a pancadaria sonora que se seguiu.
Rob Halford continua caminhando em círculos pelo palco como sempre fez. Nada de correr como o Bruce Dickinson ou fazer pose como o Coverdale. Ele simplesmente se inclina e grita, deixando a mostra sua reluzente careca tatuada.
E lá se foram um sucesso atrás do outro sempre no volume máximo e com o palco mudando de cor a cada novo petardo!
Pra cada canção o telão de fundo colocava a capa do respectivo álbum ou um slide cheio de efeitos. Só de mudança de panos de fundo foram no mínimo uns seis!
E tome explosões de fogo pra todo lado ritmado pela batida da música. Lança-chamas diversos e um efeito quase vulcânico, tipo Geisers, com cortinas de fumaça sendo lançadas para cima. Uma produção simples se compararmos com um show do U2, por exemplo, mas de uma criatividade e competência impressionantes!
“Judas Rising” chegou pra delírio da patota, que berrava no refrão.
“Diamond´s & Rust” (cover de Joan Baez) talvez tenha sido o ponto alto da primeira metade de show já que desde o anuncio causou alvoroço em todos os que conheciam o som.
Não vou descrever o set list completo pra não me estender mais ainda, mas garanto que só tocaram sucessos!
Claro que não poderiam faltar os solos para o gargarejo do vocalista, mas, diferentemente da banda de abertura, estes foram curtos e técnicos. Sempre com uma ponte para a música seguinte a dupla Glenn Tipton e Richie Faulkner (que substituiu K.K. Downing) fez o simples e eficiente dueto durante as próprias músicas sem se estender demais nos solos. De lambuja ainda ganhamos uma introdução do Hino Nacional brasileiro muito bem tocado, diga se de passagem.
O começo do fim veio com o super hit “Breaking The Law” que nos reservava uma surpresa. Halford anunciou a canção, mas não cantou uma única palavra: deixou o público cantar por ele! Foi de arrepiar!
Um breve, técnico e competente solo de bateria sem agressão ao instrumento e com a calma de quem já faz isso há pelo menos quarenta anos, fez uma ponte que culminou com as primeiras batidas daquela que é a canção que todo baterista de rock tem orgulho de tirar (perguntem ao Cassião!). Sim, estou falando de “Painkiller”!
O primeiro bis contou com quatro músicas sendo uma delas aquela que todo mundo esperava: “Hell Bent For Leather” que começa com o velho Halford entrando no palco montado numa Harley Davidson.
Mais uma pequena parada e o careca volta para o palco sozinho. Agradece ao público pelo apoio e tem uma síndrome de Freddie Mercury: começa a puxar o coro da galera com frases de “La la laaaaaa”, “Le Le leeee”...
Tudo isso pra que? Pra começar com a saideira. Minha canção preferida: “Living After Midnight”. E essa dispensa comentários...
Foram 2 horas e 20 minutos do mais puro Heavy Metal! Juro que em determinado momento eu estava pedindo arrego... Não agüentava mais a dor nos meus sequelados calcanhares!
Mas agüentei firme até ouvir “We Are The Champions” saindo dos PA´s ao apagar das luzes.
Fantástico é pouco pra descrever o que assistimos!
A velharada ainda está na ponta dos cascos, guardadas as devidas proporções, claro. Afinal, só de estrada são 40 anos!
Scott Travis faz parecer fácil tocar bateria. O cara mal se mexe atrás do equipamento e o som sai perfeito!
Mas o destaque, como não poderia deixar de ser, é o Rob Halford...
O cara tem carisma e ainda consegue usar seus “falsetes” com muita competência. Não dá pra não perceber que a mesa ajuda muito o gogó desgastado do careca aboiolado mais querido do Metal, mas isso não tira os méritos do rapaz.
Tal qual uma Diva (Que maldade... hehehe) Halford trocava de figurino a cada nova canção. Pra ser mais justo ele alternava as Jaquetas de couro com Sobretudos brilhantes e purpurinados combinando com a temática do momento.
Cansado, com sede, fome, sono e com os pés inchados voltei pra casa com uma sensação de que o tempo não passou para essa banda que assisti em 91, vinte anos atrás, engolindo o Gun´s & Roses no Rock In Rio II.
Porém... Sempre tem um ”porém”...
E esse “porém” me deixou muito aborrecido...
Afinal, foi frustrante saber que ao assistir ao show perdi o Especial “Roberto Carlos em Jerusalém” que a Globo apresentou no sábado à noite...
Falei demais?
Meu querido Afonso, texto tão bem escrito como este, com certeza merece minhas reverências...
ResponderExcluirPARABÉNS!!!
O cara é realmente bom nesse negócio de resenha de shows. Com os ingressos nesses preços arrasadores de cartão de crédito acho que no próximo vou ficar em casa e aguardar a resenha do Afonsão!! Nem mesmo presente teria tido a noção de tudo o que rolou como ele nos descreve; sem contar é claro o seu padrão de linguagem que já nos é conhecido e que me agrada tanto!!
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